“Sinto-me mal. Deitada no chão do meu quarto, sei que cheguei á exaustão. Sempre tentei ser de pedra para que ninguém me conseguisse derrubar, no entanto aqui estou eu, deitada ao chão, como se de uma leve pluma me tratasse.
Observo com estranho interesse a garrafa de Jameson deitar as suas últimas gotas, metade do conteúdo está espalhado pela alcatifa e depressa o cheiro forte, amargo e quente do whisky me chega às narinas, provocando-me uma leve náusea. Continuo a observara-la. Aquela simples garrafa está como eu, a esvaziar-se.
Tudo está calado a esta hora da noite a não ser pelo insistente pingar que a torneira do bidé faz, em momentos como estes a sempre estes pormenores absurdos que sobressaem.
Estes meus momentos de solidão deveriam, sem dúvida, ficar condensados no tempo por um longo período do mesmo, porque eu sei, que vou ter levantar a cabeça a cabeça outra vez e enfrentar o Mundo louco e selvagem uma vez mais, e outra, e outra, e outra…Mas por agora não me apetece. Não estou para isso. Só quero estar só!
É isto que eu aprecio na solidão, sempre gostei, não precisas de te preocupar. Porque pura e simplesmente não há ninguém com quem me preocupar.
Sinto-me como, se ao ver alguém de quem gosto afogar-se, esse alguém me levasse com ele, também.
É por isto que eu odeio gostar das pessoas. Ok. Uma das centenas de razões, mas ainda assim, uma das mais importantes.
Gostar de alguém é muito complicado, envolve todo um mecanismo de moral e altruísmo extremamente complexo que agora me aborrece muito pensar nele.
Às vezes acho que já desisti de me apaixonar, neste momento a noção de compromisso sério sufoca-me, qualquer dia deixo de ter amigos e família.
É difícil ser-se um paradoxo. Sou extremamente sentimental mas independente.
E tenho a real crença que vou acabar sozinha, e assustadoramente, isso não me assusta. Nem preocupa.
Depois da divagação da mente, sobre a merda de vida que tenho, é tempo para aquelas frases feitas para encorajar quando um ou outro se sente mais em baixo. Algo do tipo: “ a vida são dois dias e o Carnaval três…”. Mau exemplo, odeio o Carnaval. È para esquecer.
Levanto-me e pego na garrafa de Jameson e verto quase todo o seu líquido na boca, sentido o seu sabor amargo que descendo pela garganta cria uma quentura erradamente confortável e reconfortante.
Sinto o álcool entorpecer o meu corpo e deito-me em cima da cama, sonolenta.
É certo que quando ignoramos um problema ele tende a crescer, e eu, já à algum tempo que ignoro o meu. Talvez a demasiado. Mas hoje também não o quero enfrentar.
Fodasse…sinto-me frágil. Trágico!”
Violet Cheshire
06/10/2011, 1:20h