segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Momentâneo II

“-Porquê? – Ele perguntou-lhe. Ela olhou para ele sem olhá-lo, como sempre. Ausente. O olhar apagado e melancólico que a caracterizava.
-Porque vou estar sozinha, relaxar. Sentir o nada… - Ela respondeu-lhe levemente sem alterar uma única vez o tom de voz.
-Queres estar sozinha? – Ele perguntou-lhe. Aquela mulher era um labirinto e ele tinha-se perdido nela ao tentar encontrar a saída. Não que ele gostasse dela num sentido amoroso. Nem puramente platónico era. Ela apenas despertava nele um sentido de protecção.
-Não… - Ela respondeu simplesmente.
-Então? – As respostas vazias tal e qual como ela.
-Eu não quero estar sozinha, mas eu estou só… - Lá estava. Era aquilo. Quebrada, partida e estilhaçada. Se à pessoa que neste mundo que vivia num mundo assombrosamente atormentado era ela.
-Eu estou aqui. – Disse-lhe.
-Não é esse sozinho. É muito mais complexo que isso e vai ser algo que nunca ninguém vai entender. – Ela disse, sincera e fria.
-Tenta-me explicar. – Pediu-lhe, desesperado por um pouco de compreensão.
-Não adianta. Mas vou tentar. Existem três tipos de pessoas, por assim dizer, aquelas que encontraram alguém que as preenchem, aqueles que vivem rodeados de pessoas e se sentem completos e depois há as pessoas como eu. As pessoas que nascem sós, vivem sós e morrem sós. Porque mesmo que encontrem pessoas e estejam rodeadas de pessoas que gostem delas, sempre se sentirão sós. Não é um problema do Mundo, é um problema nosso. A solidão é nos imposta, faz parte da minha personalidade. Eu sempre, sempre me vou sentir só. Não existe uma razão muita lógica para isso. É assim apenas. – Ela explicou. E ela tinha razão, ele não conseguia entender.
-Realmente não consigo entender. Já alguém te magoou a sério para estares nesse constante estado de melancolia? – Tinha que haver uma lógica nela e ele não desistiria até encontrar.
-Já muita gente me magoou, mas nunca assim tanto. O que é a dor afinal? – Indecifrável. Mas ele queria decifrá-la. Ela olhou-o mais uma vez sem o olhar.”   

Violet Cheshire

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

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"Cortaste-me as redes de segurança, e agora, o que acontece se eu cair do sair do trapézio?"

Grito Mudo

A vida, é uma vida preenchida. Cheia de objectos, momentos, lembranças e pessoas.
Há pessoas que passam e não voltam. Há pessoas que entram e nunca mais saem. Há aqueles que em algum momento foram importantes e agora seguem o seu caminho por uma estrada diferente. E depois à aqueles que se tornam essenciais. Como tu.
Hoje é sempre um dia complicado para mim, e recordo-o sempre de duas maneiras diferentes, com doce e amargo. Se o meu coração palpita de dor ao recordar que já não estás aqui também se aquece em alegria ao saber que és uma condição sine qua non na minha vida.
É a ti que recorro quando realmente preciso de ajuda. És tu que conheces as minhas mudas preces e desejos. És tu que me ouves na multidão e me aconselhas no silêncio.  
As memórias são eles poucas, tratam-se de frames envelhecidos pelo tempo, e que parecem ter quase tanta idade como as mil e uma rugas, que eu nunca me atrevi a contar e que te tinham marcado a pele, contando mais que uma história vivida, explicavam por si sós a própria vida. No entanto eu era nova de mais para aprender delas.
Deste-me a infância, aquela primeira onde se gosta por que se gosta e a inocência é lei. Fazes-me recordar com saudade os dias de sol em que me levavas contigo pelos caminhos daquela nossa velha terra, que recordo essencialmente em ti, e eu comtemplava o que dizias ou fazias. As histórias que me contavas e me lubriavam sobre a crueldade humana em geral, em fábulas antigas e de meiguice. Os sons, os cheiros, as imagens, todos os sentimentos e sensações possíveis que me recordam esses tempos, e foram elas também conduzidas por ti a até mim.
Porque me deste os primeiros sete anos da minha vida, e os últimos da tua, e embora de revoltada com isso, sei que tinhas que partir, porque eu te perdi, tu já tinhas nessa vida perdido, e ganho, mais que eu e o cansaço de uma existência difícil fez-se falar mais forte.
O que me diriam os teus olhos verde-azulados translúcidos, como nunca mais vi nenhuns, se me vissem agora? Boa parte disto se deve a ti, porque sou muito do que tu eras, e és, ainda, no meu coração. Quanta da tua sabedoria não me fez falta ao longo destes últimos dose anos? E sabes que eu absorveria tudo de ti como uma esponja.
Talvez até chocássemos em alguns aspectos. Eu sei que sim, que o faríamos, porque eu sou muito eu e tu eras muito tu, e haveria coisas em mim que nunca irias compreender porque não conseguirias, a tua idade e o peso da mesma nunca te permitiria isso. Mas sei que apesar disso tudo continuaria a ser a menina dos teus olhos, sempre vigilantes porque sabias o quão imprevisível eu sou e era mesmo em criança.
É por isso que sei que não vale a pena viver e cair nas futilidades que existem, no fim tudo se resume a viver é morrer.
E assim sendo retorno ao mundo perfeito desse tempo longinco, onde tudo era alegria e beleza, onde tudo era meu, especialmente tu, onde tudo era simples, construído essencialmente em torno de nós.
Porque se eu pudesse, daria um Mundo, para que tu me agarrasses por um pulso e me levasses por uma dessas nossas simples e mundanas voltas, outra vez, só para te poder dizer o quanto eu gosto de ti. 
Dedicada a ti e para ti, Avozinho.             

domingo, 20 de novembro de 2011

Inconveniência e baldes de água fria…

É o que me costuma acontecer, porque tenho esta mania, ligeiramente irritante de me rir quando não devo!
Se há coisa que eu aprendi com a vida, que apesar de curta, foi até agora, recheada de intensas experiências é que nós não a podemos levar a sério.
Porque ela já é por demasiado complexa para sequer nós perder-mos tempo a chatearmo-nos por ela ser tão fodida. Sim, eu sei que acabei de utilizar uma asneira para classificar a vida e depois?
Há adjectivo melhor?
Não!
A vida é assim mesmo, sem rodeios e floreados, Fodida, como só ela saber ser. No entanto vale a pena vive-la, cada segundo, intensamente.
Mas bem deixemo-nos de filosofias baratas e voltemos ao que nos trouxe aqui. Sim, aquele minha odiosa mania de rir quando não devo. Pois.
Sabem eu sou aquele tipo de pessoa que era capaz de se descascar a rir num funeral só porque o morto em questão, suponha-mos, tenha falecido de uma maneira perfeitamente parva, e acreditem, provavelmente não me sentiria mal, porque continuaria a achar piada à forma como o hipotético individuo aqui em questão morreu. E porque tenho uma visão sobre a morte ligeiramente diferente da maioria das pessoas, mas isso são outras conversas.
Seja como for, há situações na vida em que uma pessoa definitivamente não pode rir, no entanto insisto em faze-lo e a maioria das pessoas encara-o como algo mau.
Mas em minha defesa, tenho que dizer, é involuntário, ou pelo menos na maior parte das vezes, é que o meu próprio cérebro acciona automaticamente o mecanismo do riso pelas mais variadíssimas coisas. 
Porque estou a gostar. Porque me lembro de alguma coisa. Porque acho, e isto é em 99% dos casos, irónico. Porque sou parva e louca. Porque a vida é um jogo. Porque sem eu me rir de tudo e todos, eu não era eu, ora!
Mas por vezes a coisa corre-me mal, é que rir em momentos que não se deve tende a criar momentos constrangedores que depois se tornam em verdadeiros baldes e água fria quando o enfeito do riso tinha a intenção contrária. Motivar e não desmotivar.
E isto é a minha e sim ela à vezes, pura e simplesmente não presta.    

sábado, 12 de novembro de 2011

Something in the Way

Porque tenho inspirações repentinas e porque sou, em alguns casos uma pessoa de extremos. Ou Amo ou Odeio e o pior que as pessoas podem receber de mim é sem dúvida a indiferença.
Porque me aborreço com facilidade, para mim a vida é desafio e canso-me depressa de algo se não me der uma determinada “pica”.
Porque gostos de jogos mentais, puzzles e gente indecifrável. Gosto de ironia, e passo a vida a rir-me por isso. E gosto especialmente de reparar naquilo que mais ninguém repara.
Porque só os mais chegados me realmente conhecem, a maioria só vê alguma das máscaras que eu deliberadamente criei porque é mais divertido assim.
Porque sou tão louca quanto séria, não gosto que me subestimem e que me julguem.
Porque eu não julgo ninguém.
Porque há gente que me enerva só com a sua existência e gente que me cativa só pelo olhar.
Porque sou imperfeita, tenho mau feitio, um génio difícil e consigo ser muito má quando quero, desfrutando inclusive, algumas vezes, em azucrinar a vida aos outros.
Porque tenho muitas prioridades e levo a vida a brincar. Porque gosto de ver o copo meio cheio em vez de meio vazio.
Porque raramente alguém sabe o que levo a sério e quais a prioridades são.
Porque gosto, tal e qual como agora estou a fazer, deixar o cérebro em automático e escrever o que sair.
Porque só faço o que me apetece, como me apetece, quando me apetece, porque me apetece, onde me apetece, com quem me apetece. E porque que me fodo muitas vezes à pala disso.
Porque não gosto que me respondam, não gosto de não ter resposta, não suporto “engolir sapos”, não gosto que me humilhem e odeio perder e amo ganhar.
Porque mudo de humor em cinco segundos.
Porque sou demasiado sincera, directa e até mesmo bruta.
Porque não me importo com o que dizem, bem, mal ou nada.
Porque a vida é curta e a mim não me apetece desperdiça-la.
Porque não suporto gente burra, sem objectivos, sem sonhos, almas vazias, enfim.
Porque eu sou muita coisa, complexidade é algo que me define e eu apenas estou a divagar…

domingo, 6 de novembro de 2011

Karma, mas pouco…

Não sou crente. Não acredito em Deus. Em nenhum, no entanto sou uma pessoa muito espiritual, acredito que o ser humano, em si próprio, tem uma força que o ultrapassa, algo que nos faz ir mais além.
Inevitavelmente isto levou-me, ao longo do tempo a acreditar no Karma, que tudo o que vai algum dia regressa, que todas as nossas acções tem consequências positivas ou negativas e acima de tudo que a vida é hipotética, não há destino, nós é que em algum momento o escolhemos.
Esta máxima, que vem do Budismo e que é extremamente pacifica também me ajudou a controlar o meu génio que é difícil de se aturar. Sou impulsiva e as coisas às vezes correm-me mal por isso.
Especialmente quando este meu mau feitio insiste em ser provocado, e é neste ponto que eu muitas vezes me encontro. Karma, mas pouco… É que há por determinados indivíduos que têm a magnifica capacidade, e insistem em usá-la, de me tirar do sério.
Falo é claro, da gente idiota que me rodeia. Gente essa que não gosta de se esforçar, muitas vezes nem sequer em pensar. Aquele tipo de gente que podia cair de um 32º andar e aterrar em cheio num balde de merda derretida ao sol, que eu, não tinha pena. Mais, teria todo o gosto em rir-me e ‘afocinhar-lhes’ a tromba ainda mais no cujo dito cocó.
É que existe mesmo pessoal que não se manca e olha ao espelho. Que permanecem numa inércia de evolução de espírito, de crescimento enquanto seres humanos e com vontade de fazer mais e melhor.
Habituados aos facilitismos falsos, desta sociedade consumista de falsos ideias, porque mais tarde ou mais cedo a vida vai-te cobrar alguma cena e será que esses pessoas conseguem pagar?
Não, porque nem sequer vão entender a complexidade da dívida e vão deixar passar e não viver.
Porque já dizia Oscar Wilde: “Viver é a coisa mais rara do Mundo, a maioria das pessoas apenas existe!”       

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

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"Por simples bom senso, não acredito em Deus. Em nenhum."
Citação de Chaplin no livro Manual of a Perfect Atheist de Eduardo Del Rio Garcia (1994)

sábado, 15 de outubro de 2011

Pedaços II-O que há em mim é sobretudo cansaço

 
O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos

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Pior que amar ou odiar, é sentir nada.
Porque só a partir do momento em nos deixamos de preocupar é que deixamos a essência de sentir... 
O que acontece a partir do momento em que achamos que já não vale a pena?

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Feeling the dirt, because life, sometimes, is so  hard that she shoots us to the  ground. We just can't, get up. And  this is our only option, it's  bite the dust. Becouse impotence it's the worse of the feelings.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Acto I – Trágico!


“Sinto-me mal. Deitada no chão do meu quarto, sei que cheguei á exaustão. Sempre tentei ser de pedra para que ninguém me conseguisse derrubar, no entanto aqui estou eu, deitada ao chão, como se de uma leve pluma me tratasse.
Observo com estranho interesse a garrafa de Jameson deitar as suas últimas gotas, metade do conteúdo está espalhado pela alcatifa e depressa o cheiro forte, amargo e quente do whisky me chega às narinas, provocando-me uma leve náusea. Continuo a observara-la. Aquela simples garrafa está como eu, a esvaziar-se.
Tudo está calado a esta hora da noite a não ser pelo insistente pingar que a torneira do bidé faz, em momentos como estes a sempre estes pormenores absurdos que sobressaem.   
Estes meus momentos de solidão deveriam, sem dúvida, ficar condensados no tempo por um longo período do mesmo, porque eu sei, que vou ter levantar a cabeça a cabeça outra vez e enfrentar o Mundo louco e selvagem uma vez mais, e outra, e outra, e outra…Mas por agora não me apetece. Não estou para isso. Só quero estar só!
É isto que eu aprecio na solidão, sempre gostei, não precisas de te preocupar. Porque pura e simplesmente não há ninguém com quem me preocupar.
Sinto-me como, se ao ver alguém de quem gosto afogar-se, esse alguém me levasse com ele, também.
É por isto que eu odeio gostar das pessoas. Ok. Uma das centenas de razões, mas ainda assim, uma das mais importantes.
Gostar de alguém é muito complicado, envolve todo um mecanismo de moral e altruísmo extremamente complexo que agora me aborrece muito pensar nele.
Às vezes acho que já desisti de me apaixonar, neste momento a noção de compromisso sério sufoca-me, qualquer dia deixo de ter amigos e família.
É difícil ser-se um paradoxo. Sou extremamente sentimental mas independente.
E tenho a real crença que vou acabar sozinha, e assustadoramente, isso não me assusta. Nem preocupa.
Depois da divagação da mente, sobre a merda de vida que tenho, é tempo para aquelas frases feitas para encorajar quando um ou outro se sente mais em baixo. Algo do tipo: “ a vida são dois dias e o Carnaval três…”. Mau exemplo, odeio o Carnaval. È para esquecer.
Levanto-me e pego na garrafa de Jameson e verto quase todo o seu líquido na boca, sentido o seu sabor amargo que descendo pela garganta cria uma quentura erradamente confortável e reconfortante.
Sinto o álcool entorpecer o meu corpo e deito-me em cima da cama, sonolenta.
É certo que quando ignoramos um problema ele tende a crescer, e eu, já à algum tempo que ignoro o meu. Talvez a demasiado. Mas hoje também não o quero enfrentar.
Fodasse…sinto-me frágil. Trágico!”

Violet Cheshire   
06/10/2011, 1:20h

terça-feira, 11 de outubro de 2011

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About Life:

"(...)Nobody said it was easy, No one ever said it would be this hard(...)"

Coldplay-The Scientist

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

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O propósito da vida? Ninguém sabe...O interesse da mesma está em descobrir!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

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"Mulheres bem comportadas, raramente fazem história!" Marilyn Monroe

Momentâneo I


“-Eu não acredito, pura e simplesmente não acredito nisso! – Eu disse com a maior das sinceridades, fitando os grandes e amendoados olhos castanhos da minha melhor amiga.
Catarina olhou-me profundamente chocada, mas o que é que eu podia fazer se aquela era a verdade.
-Como é que tu podes dizer isso, Ofélia? É o amor que move o mundo, como é que tu não podes não acreditar nele? – Ela disse-me.
-És tão inocente Catarina, realmente inocente! O ser humano é demasiado egoísta para amar alguém mais do que a si mesmo…- eu murmurei-lhe enquanto observávamos o sol a pôr-se, agarrei os meus joelhos com os braços e escondi a cara entre eles algo que eu fazia com frequência quando não queria falar sobre um determinado assunto.
E o amor e as paixões humanas, eram um deles. Mas Catarina pareceu não se importar com a minha disposição para falar destes temas.
-Não percebo, Ofélia, eu sonho constantemente com um grande romance, quero sentir o meu coração acelerar cada vez que o vejo, quero sentir o meu corpo todo em torpor só por um toque, entender alguém só com o olhar – nesta parte do longa enumeração da minha amiga, passei a observa-la, as bochechas levemente coradas, o sorriso que enfeitava os lábios, os olhos brilhantes…como é que alguém podia ser tão feliz só ao imaginar esta lamechices?! – Enfim quero viver uma história de amor como Romeu e Julieta…
-A vida não é uma peça Shakespeariana, Catarina. Além disso as personagens morrem no fim…- eu disse-lhe seriamente. Catarina revirou os olhos em impaciência, algo muito pouco usual na minha querida amiga.
-Porque vês sempre as coisas pelo lado negativo? Aquilo representa o amor que rompe com as barreiras do espaço e do tempo! – Ela exclamou, com se estivesse a explicar algo uma criança pequena.
-Não existe ninguém com nível de altruísmo suficiente para morrer por outra pessoa. A nossa vida não se pode resumir a existência de um único individuo. Primeiro temos que viver por nós próprios e só depois podemos viver com os outros. Nunca pelos outros, Catarina. As pessoas podem sempre trair-te… - Catarina fechou os olhos e suspirou, quase em desilusão.
-Assim até me ofendes, Ofélia…- ela respondeu-me com algum pesar.
-É triste mas é real, o ser humano desilude... – Eu respondi-lhe.
-É assim tão desacreditada na tua própria raça?! – Ela perguntou-me retoricamente, Catarina conhecia-me bem o suficiente para saber que eu não dizia estas coisas da boca para fora, eu, realmente acredito que o Mundo se move assim.
- Dá-me provas disso constantemente, como poderia eu não acreditar naquilo que vejo? Catarina, todas as pessoas mentem, é condição básica em nós mesmos, a única variável é sobre o que mentimos. E isso incluiu os sentimentos! – eu constatei o que para mim era evidente. Catarina arregalou os seus olhos enormes.
-Eu acho que sou uma pessoa muito sincera! - Ela respondeu-me.
-Sim és, até de mais, para o teu próprio bem. – eu disse-lhe, era a realidade, a minha melhor amiga não vivia no nosso mundo, era por isso que eu gostava tanto dela, Catarina é ingénua no entanto até o mais puro dos anjos pode pecar.” 

Violet Cheshire

sábado, 13 de agosto de 2011

Pedaços-"Nevoeiro"

Claude Monet, Vetheuil in the Fog, 1879
 
Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ância distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!
Fernando Pessoa, in Mensagem, 1934 Lisboa