sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Stairway to Heaven

Extensa é a lista de coisas que eu não compreendo sobre o Mundo e as pessoas. Mas um dos mais ultrajantes, para mim, é sem dúvida haver pessoas que não ouvem música, ou gostam de música. É-me no meu mais íntimo ser, completamente incompreensível. Música é a Arte mais facilmente comunicável, divulgável e acessível. Não me venham dizer que é mania de artista, ver na música uma pessoal essencial à sobrevivência do ser, pode não ser em ter-mos físicos, mas salva qualquer um termos psicológicos. Mas não foi para dissertar sobre as virtudes da música, que hoje me dediquei às palavras, mas foi sim para falar de uma em específico.
‘Stairway to Heaven’ dos Led Zeppelin é a minha música perferida de sempre, de todas as que já foram escritas, e arrisco-me a dizer, de todas aquelas que ainda um dia virão a fazer. ‘Stairway to Heaven’ é a minha música para qualquer ocasião, e que assenta bem, como se diz em bom Inglês, ‘no matter what’. ‘Stairway to Heaven’ já me limpou as lágrimas, já me fez companhia quando me sentia só, já me aconselhou quanto mais ninguém conseguia, já me fez sorrir com profunda felicidade, já me acalmou a alma em dias tempestuosos, me acompanhou nos finais de tarde de Verão, nas noites de frias de Inverno. Já a ouvi nos melhores e nos piores dias, já a ouvi porque precisava de a ouvir, já a ouvi simplesmente porque me apetecia ouvi-la, já tocou incontáveis vezes em ‘loop’ pelo dia fora. ‘Stairway to Heaven’ entende-me, como a uma música entende poucos. Talvez seja mesmo ‘a song of hope…’ como diz Plant, talvez seja a própria forma sentida como ela a canta, talvez seja o dedilhado de Page que faz chorar a guitarra numa melodia transcendental, talvez seja a letra que nada e tudo fala, como se um murmúrio da própria vida se tratasse. Ou talvez seja só eu, que amo demasiado a ‘Stairway to Heaven’ para ser apenas mais uma canção.



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Poema 14


Brincas todos os dias com a luz do Universo.
Subtil visitadora, chegas na flor e na água.
És mais do que a pequena cabeça branca que aperto
como um cacho entre as mãos todos os dias.


Com ninguém te pareces desde que eu te amo.
Deixa-me estender-te entre grinaldas amarelas.
Quem escreve o teu nome com letras de fumo
entre as estrelas do sul?
Ah, deixa-me lembrar como eras então,
quando ainda não existias.


Subitamente o vento uiva e bate à minha janela fechada.
O céu é uma rede coalhada de peixes sombrios.
Aqui vêm soprar todos os ventos, todos.
Aqui despe-se a chuva.


Passam fugindo os pássaros.
O vento. O vento.
Eu só posso lutar contra a força dos homens.
O temporal amontoa folhas escuras
e solta todos os barcos que esta noite amarraram ao céu.


Tu estás aqui. Ah tu não foges.
Tu responder-me-ás até ao último grito.
Enrola-te a meu lado como se tivesses medo.
Porém mais que uma vez correu uma sombra estranha
pelos teus olhos.


Agora, agora também pequena, trazes-me madressilva,
e tens até os seios perfumados.
Enquanto o vento triste galopa matando borboletas
eu amo-te, e a minha alegria morde a tua boca de ameixa.


Quanto te haverá doído acostumares-te a mim,
à minha alma selvagem e só,
ao meu nome que todos escorraçam.
Vimos arder tantas vezes a estrela d'alva beijando-nos os olhos
e sobre as nossas cabeças destorcem-se os crepúsculos
em leques rodopiantes.
As minhas palavras choveram sobre ti acariciando-te.
Amei desde há que tempo o teu corpo de nácar moreno.
Creio-te mesmo dona do Universo.
Vou trazer-te das montanhas flores alegres, "copihues",
avelãs escuras, e cestos silvestres de beijos.



Quero fazer contigo
o que a primavera faz com as cerejeiras.

Pablo Neruda, "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada" 1924

domingo, 8 de dezembro de 2013

Momentâneo V

“Os cabelos agitaram-se entre a névoa Invernal descia assim como a noite gelada, tornando as luzes da cidade em borrões brilhantes pintados a aguarela. O nariz e as bochechas vermelhos do frio, e as pequenas nuvens de vapor que se formavam com fulgor da respiração acelerada. Corria, por entre os primeiros flocos que caíam de neve, ficando presos no seu cabelo laranja-fogo. E uma única lágrima corria pelo rosto. Porque corria daquilo que fazia feliz? Parou estupefacta com a conclusão evidente. Virou-se para atrás ao ouvir os passos que a perseguiam, e viu-se abraçada pelos braços que aqueciam, a frieza do Mundo.”   

Violet Cheshire

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Nada mais quero que silêncio

Em dias, em que me sinto só, nada mais quero que estar sozinha na escuridão, nada mais quero que silêncio.
Quando o coração lateja levemente, sem razão aparente e todas as dúvidas me assolam, eis que bate a porta a solidão. E eu abro-lhe a porta, acolhendo-a como a velha amiga que se tornou. Há dias assim, em que nada mais quero que silêncio.
Nunca o vou conseguir explicar, a relação que tenho com a solidão, a sua presença constante, numa constante inexistência, não estou só, sinto-me só, não me sinto só. É um problema de mim para mim, a grande questão sem resposta. Porquê? Nada mais quero que silêncio.
Talvez a sensibilidade seja a culpada. O sentir profundamente a vida, me faça sentir tão profundamente a ausência dela, que tenta ser preenchido por palavras soltas e desconexadas, em frases vãs e sem sentido, escritas e não faladas pois afinal, nada mais quero que silêncio.
Ligada ao Mundo. Desconectada da vida. A sombra em mim que sempre me acompanhada. Nada mais quero que silêncio.
Perco a paciência. Esgota-se a força. Esvazia-se a vontade. Nada mais quero que silêncio.
…!

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Variações

"Olha que a vida não, não é nem deve ser
Como um castigo que tu terás que viver

Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito

Muda de vida se há vida em ti a latejar"


António Variações

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Amigo, maior que o pensamento...

Ainda á pouco te disse, que já tinha começado a escrever o texto para a tua despedida. Reescrevi-o. E podia reescreve-lo cem vezes, e nunca teria palavras suficientes para a nossa amizade, por isso mesmo não me atrevo ao desafio de escrever sobre ela, vou falar antes sobre o Sonho, afinal como dizia António Gedeão, no seu eterno poema, Pedra Filosofal, o Sonho é “…que comanda a vida…”. Também nunca fomos de grandes formalidades e temos a frase que define uma amizade: “Amigo, maior que o pensamento…”, aquela tal mística conexão mental que os anos de amizade ajudaram a cimentar. Mas desvio-me do cerne da questão, o Sonho, sim.
Seria lógico que na última noite antes de ires embora, fosse-mos tomar um café de despedida, mas não, connosco as coisas simplesmente não podem ocorrer da forma normal, passa-mos os últimos dias que te vou ver até Dezembro, diz feliz o ditado que o tempo passa depressa, em um ambiente caótico, num set a rodar um booktrailer de Terror. A sofrer todo o stress e cansaço, a correr de um lado para o outro, mas assim somos nós a viver o momento, a fazer o improvável, a Arte do Acaso.
Mas divago novamente, hábito antigo meu…divaga-mos, tanta vez, sobre como nos sentimos enjaulados na pequena cidade perdida na Beira que nos criou, que ama-mos por aquilo que nos deu, odiamos por aquilo que é. Que necessita-mos de mudança, de algo maior, de correr atrás do Sonho. Entretanto rimo-nos entre alguma piada inteligente que algum de nós manda, no meio da esperança de que tudo vai mudar em breve. E vai! Adiantas-te, essa é verdade, e agora partes para uma nova aventura, um twist daquilo que conheces-te por vinte anos e o medo excitante que tudo pode tão certo como errado. Quanto a mim, continuo aqui, lutando contra o diletantismo que nos é imposto pela falta de oportunidade e majicando planos para também eu agarrar o Sonho.
Todos nós, chega-mos a alturas que nos vemos deparados com situações que nos permitem chegar mais perto do algo que idealizamos para nós, os novos desafios que a vida impõe e nós impomos a nós próprios, meu amigo, chegas-te a um desses momentos e sei que tens tudo para o conseguir, esse algo que vais procurar nesta nova etapa.
Vive, este é o meu maior conselho, vive a vida intensamente! Procura o que queres, procura-te, e volta a procurar. O Sonho constrói-se à medida que se encontram as peças certas, e a erradas também, com as quais ele se pode (ou não) construir. E acima de tudo sê feliz. Porque nada meu amigo, nada nesta vida faz sentido, nem mesmo o Sonho, se não formos felizes nele. 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Sr.Carepo ♥

'Eras a peça essencial, que faltava ao puzzle, para estar completo e fazer sentido.'

sábado, 20 de julho de 2013

"Veronika Decide Morrer"

"(...)Aos 24 anos, depois de ter vivido tudo que lhe fora permitido viver – e olha que não foi pouca coisa! – Veronika tinha quase a certeza de que tudo acabava com a morte. Por isso escolhera o suicídio liberdade, enfim. Esquecimento para sempre.(...)"
Paulo Coelho, "Veronika Decide Morrer", 1998

Momentâneo IV

“Fechou os olhos e inspirou. Expirou, ainda mais, profundamente. Sentiu o Sol de final de tarde sobre a pele e o som das andorinhas que se passeavam no céu, nas intermináveis viagens de ida e volta, para a frente e para trás, parecia ser o único som que a rua se permitia aquela hora e o que, em qualquer outro momento, seria irritante, era, agora, reconfortante. Entreabriu os olhos, e inconscientemente os lábios, e observou a paleta que o pôr-do-Sol lhe fornecia, pintando as nuvens e o horizonte de laranja e rosa sobre o límpido azul. Podia-se dizer que era um dia bonito. E que Alice, estava bonita. O leve vestido branco, o cabelo solto e penteado, a maquilhagem leve e os pés descalços que agora se colocam nos bicos de si mesmo, para que ela pudesse apreciar melhor a brisa leve que corria. Gargalhou levemente. A sua beleza era natural. Alice rodopiou com os braços no ar sobre o antigo chão de madeira do quarto, e dançou. Dançou, com movimentos livres e soltos, ilógicos e não coreografados, rindo no processo. Era um dia feliz. Era um dia importante. Continuo a sua, estranhamente agradável, dança, para de repente parar, e olhar marotamente para a janela atrás de si. Rodou o resto do corpo e caminhou até à mesma. Apoiou as mãos sobre o parapeito e subiu para cima do mesmo, abriu os braços para o lado e encarou o Sol. A vida. Colocou-se em bicos de pés novamente e riu, inspirando fundo, e fechando os olhos quando expirou, os braços colocaram-se para trás, e com um sorriso, o peito pendeu para a frente fazendo o corpo de Alice cair da janela, com graciosidade pelos nove andares do prédio onde vivia.   
Afinal o que é a liberdade?”
Violet Cheshire

terça-feira, 2 de abril de 2013

"We’re born alone, we live alone, we die alone. Only through our love and friendship can we create the illusion for the moment that we’re not alone." Orson Welles

terça-feira, 5 de março de 2013

Epifanias sem Sentido I

Não acredito em religião. Não acredito em nenhum Deus. Acredito sim na Imortalidade do homem e da alma deixado no seu legado. Acredito que de alguma forma transcendente cada ser deixa a sua marca neste planeta, mesmo que ninguém a veja, mesmo que ninguém saiba dela. Nem que essa seja tão simples como a Lei de Lavoisier: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". O nosso corpo pertence aqui e a terra e com ela se funde, onde passamos a fazer parte de um ciclo sem fim.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

"Gott ist tot"

"Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje!"

 Friedrich Nietzsche, in A Gaia Ciência 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

"One pill makes you larger
And one pill makes you small
And the ones that mother gives you
Don't do anything at all
Go ask Alice, when she's ten feet tall"


Jefferson Airplane