sábado, 20 de julho de 2013

"Veronika Decide Morrer"

"(...)Aos 24 anos, depois de ter vivido tudo que lhe fora permitido viver – e olha que não foi pouca coisa! – Veronika tinha quase a certeza de que tudo acabava com a morte. Por isso escolhera o suicídio liberdade, enfim. Esquecimento para sempre.(...)"
Paulo Coelho, "Veronika Decide Morrer", 1998

Momentâneo IV

“Fechou os olhos e inspirou. Expirou, ainda mais, profundamente. Sentiu o Sol de final de tarde sobre a pele e o som das andorinhas que se passeavam no céu, nas intermináveis viagens de ida e volta, para a frente e para trás, parecia ser o único som que a rua se permitia aquela hora e o que, em qualquer outro momento, seria irritante, era, agora, reconfortante. Entreabriu os olhos, e inconscientemente os lábios, e observou a paleta que o pôr-do-Sol lhe fornecia, pintando as nuvens e o horizonte de laranja e rosa sobre o límpido azul. Podia-se dizer que era um dia bonito. E que Alice, estava bonita. O leve vestido branco, o cabelo solto e penteado, a maquilhagem leve e os pés descalços que agora se colocam nos bicos de si mesmo, para que ela pudesse apreciar melhor a brisa leve que corria. Gargalhou levemente. A sua beleza era natural. Alice rodopiou com os braços no ar sobre o antigo chão de madeira do quarto, e dançou. Dançou, com movimentos livres e soltos, ilógicos e não coreografados, rindo no processo. Era um dia feliz. Era um dia importante. Continuo a sua, estranhamente agradável, dança, para de repente parar, e olhar marotamente para a janela atrás de si. Rodou o resto do corpo e caminhou até à mesma. Apoiou as mãos sobre o parapeito e subiu para cima do mesmo, abriu os braços para o lado e encarou o Sol. A vida. Colocou-se em bicos de pés novamente e riu, inspirando fundo, e fechando os olhos quando expirou, os braços colocaram-se para trás, e com um sorriso, o peito pendeu para a frente fazendo o corpo de Alice cair da janela, com graciosidade pelos nove andares do prédio onde vivia.   
Afinal o que é a liberdade?”
Violet Cheshire