A vida, é uma vida preenchida. Cheia de objectos, momentos, lembranças e pessoas.
Há pessoas que passam e não voltam. Há pessoas que entram e nunca mais saem. Há aqueles que em algum momento foram importantes e agora seguem o seu caminho por uma estrada diferente. E depois à aqueles que se tornam essenciais. Como tu.
Hoje é sempre um dia complicado para mim, e recordo-o sempre de duas maneiras diferentes, com doce e amargo. Se o meu coração palpita de dor ao recordar que já não estás aqui também se aquece em alegria ao saber que és uma condição sine qua non na minha vida.
É a ti que recorro quando realmente preciso de ajuda. És tu que conheces as minhas mudas preces e desejos. És tu que me ouves na multidão e me aconselhas no silêncio.
As memórias são eles poucas, tratam-se de frames envelhecidos pelo tempo, e que parecem ter quase tanta idade como as mil e uma rugas, que eu nunca me atrevi a contar e que te tinham marcado a pele, contando mais que uma história vivida, explicavam por si sós a própria vida. No entanto eu era nova de mais para aprender delas.
Deste-me a infância, aquela primeira onde se gosta por que se gosta e a inocência é lei. Fazes-me recordar com saudade os dias de sol em que me levavas contigo pelos caminhos daquela nossa velha terra, que recordo essencialmente em ti, e eu comtemplava o que dizias ou fazias. As histórias que me contavas e me lubriavam sobre a crueldade humana em geral, em fábulas antigas e de meiguice. Os sons, os cheiros, as imagens, todos os sentimentos e sensações possíveis que me recordam esses tempos, e foram elas também conduzidas por ti a até mim.
Porque me deste os primeiros sete anos da minha vida, e os últimos da tua, e embora de revoltada com isso, sei que tinhas que partir, porque eu te perdi, tu já tinhas nessa vida perdido, e ganho, mais que eu e o cansaço de uma existência difícil fez-se falar mais forte.
O que me diriam os teus olhos verde-azulados translúcidos, como nunca mais vi nenhuns, se me vissem agora? Boa parte disto se deve a ti, porque sou muito do que tu eras, e és, ainda, no meu coração. Quanta da tua sabedoria não me fez falta ao longo destes últimos dose anos? E sabes que eu absorveria tudo de ti como uma esponja.
Talvez até chocássemos em alguns aspectos. Eu sei que sim, que o faríamos, porque eu sou muito eu e tu eras muito tu, e haveria coisas em mim que nunca irias compreender porque não conseguirias, a tua idade e o peso da mesma nunca te permitiria isso. Mas sei que apesar disso tudo continuaria a ser a menina dos teus olhos, sempre vigilantes porque sabias o quão imprevisível eu sou e era mesmo em criança.
É por isso que sei que não vale a pena viver e cair nas futilidades que existem, no fim tudo se resume a viver é morrer.
E assim sendo retorno ao mundo perfeito desse tempo longinco, onde tudo era alegria e beleza, onde tudo era meu, especialmente tu, onde tudo era simples, construído essencialmente em torno de nós.
Porque se eu pudesse, daria um Mundo, para que tu me agarrasses por um pulso e me levasses por uma dessas nossas simples e mundanas voltas, outra vez, só para te poder dizer o quanto eu gosto de ti.
Dedicada a ti e para ti, Avozinho.
Bah, fantástico
ResponderEliminar